quarta-feira, dezembro 19, 2012

Amor de Bicho


Eu não quero ser a rocha fria que cobre a tua sepultura, tampouco a pele fria cercada pela armadura. Eu quero sim, a nossa união, o nosso; o meu no teu, o teu no meu; eu quero a gente assim, cúmplices do ato, o pacto. Vem para mim se tens medo. Tolice minha, ou será tua, de crerdes que não há medo em mim. Tua presença me apavora pela força que promove em minhas entranhas, elas se contorcem feito bicho vivo.     

Sou bicho homem virando bicho, o amor é instinto de sobrevivência. Quero me aninhar em você, procriar contigo o nosso amor. E que a força dos nossos medos seja a promotora da nossa coragem, e nos permita viver o que a nossa razão teima em dizer que não. Essa senhora nada sabe dos bichos, e quem se esqueceu de avisar a essa sisuda dama que somos bicho. Somos sim, eu e você, dois animais que se cheiram, se estranham, nesse reconhecimento só nosso, nessa explosão de sensações, do teu cheiro preso em minhas mãos. O meu farejar o teu sexo, de provar da tua saliva lúbrica, de me engatar no teu corpo como se pudesse fundi-lo ao meu.        

Na ânsia desassossegada de manter você junto a mim, na tentativa vã de preservar você comigo. Na minha ciência feral, posto que, como bicho, comer você, é incorporá-lo a mim. Devorar você. É te permitir habitar no meu recôndito mais íntimo. Não desejo descaracterizá-lo, pois assim, como amarei a ti; no reflexo indômito de abocanhar-lhe, quero sim, acariciares tu com a minha língua, permitir-lhe gravar no meu corpo, em todos os meus sentidos, a tua presença forte e almiscarada. Sendo assim, eu e você, a unha e a carne, o pacto de sangue, o amor encerrado em músculos. Somos nós como agonistas e antagonistas, que se firmam na força de um só, tanto na abocanhadura, como no mais tenro e cálido beijo. 

No reflexo do teu olhar eu me encontrei, na fragilidade da tua pupila eu hesitei em avançar. Não que teu olhar me assustasse, fora eu com esse meu jeito bicho não querendo lhe invadir, assim, de assalto. Eu desejei encostar em você, sentir tua pele na minha, observando-o não como uma caça, mas como um igual. Percebendo o teu disfarce, notei o que mais me fascinou e me prendeu a ti, essa tua fragilidade mansa. Essa mesma, que atiçou em mim o mais forte dos desejos: o de nos preservar.


"Para acender uma chama são necessários gravetos e calor. Os gravetos serão você. Eu cuido do calor."