terça-feira, dezembro 28, 2010

O Conto da Rainha


     Hoje estou aqui sentada nesse trono de pedra cinza, o vento corta a sala com sua presença fria. Tudo parece estático, como se até a corrente de ar que me trespassa habitasse não só a minha casa, mas fosse parte constituinte de mim. 
     Nessas horas de reflexão me vejo má, vil, vingativa... Tão pouca verdade... Não passa de ressentimento, amargura, dor pelo abandono sofrido por tantas e tantas vezes. Concluo por vezes que a minha distância, necessidade constante de controle e até mesmo de verdade... São palavras usadas para se referir a essa... Desculpa... Terminar de ferir seria melhor, o termo mais adequado digamos. Foi não largar a Espada que me trouxe aqui, a um reino de conhecimento experimentado, muitas vezes usado habilmente para ferir, matar, suicidar, conquistar, vencer e por mim derrotar. 
     Lutar contra si mesmo, fortalece o espírito de combate, mas enfraquece a alma carente de entrega. Estive fantasiosamente cercada de inimigos, eles podiam expor minha fragilidade, não posso deixar eles se aproximarem, devo dar a eles o que querem de mim, nada além, nada verdadeiramente meu. Vou fazer-lhes crer que ganham quando por fim não passam de ingênuos, crédulos, nunca estiveram perto de mim. Eram adversários, tinham um bom combate, mas por fim não mais me satisfaziam, me pareciam fracos, dependentes, carentes de algo que eu não podia lhes dar; a mim mesma. 
     Entregar, doar, ceder, nada que fosse de verdade, era tudo falso, para manter o jogo até quando nada mais me aprouvesse. Quando por fim tudo se arruinava, eu me olhava e via um frescor, chamado de liberdade, que tão pouco se converteria em ressentimento. Vinha à consciência perdi. E logo em seguida, mas tudo era um teste, como ele não percebera antes. Ele é um lutador, um guerreiro, devias saber que nada viria tão fácil, pois bem eu sou seu teste, te ensinei a crescer, agora lute contra mim, me vença. Mas perda se arrastava com os dias, ele não voltará. Foi muito humilhado, desmerecido, insultado. 
     Eu vivia aquela vontade, aquele desejo, aquela faca engasgada na garganta. Como não voltastes. O que foi? Foi demais pra você, então que bom! Não me merecias. Tudo alimentava os pensamentos envoltos de mágoa, o ressentimento vinha como golfadas, inundava a realidade. Fortalecia a farsa. Estóica. Fria, morta, arrasada. Incapaz de esboçar algo real ou profundo. Ressentida. Dominada pelos pensamentos, certa de que viria o amanhã que comprovariam a péssima decisão de ter sido tão covarde, de ter partido tão sem razão, pois se tudo não passara de um teste, e ele soubera o tempo todo. Ele mentiu. Veio aqui para matar, roubar e pilhar. Não há com o que se preocupar, eu estou aqui, viva inalterada pelo tempo; já ele minguará dia após dia. Sofrerá, e eu por fim regozijarei, deleitar-me-ei com cada derrota sua. 
     Desdenharei cada vitória, pois todas me parecerão inglórias. E por fim estarei eu aqui nesta mesma sala; fria como as mobílias. Esperando pelo nosso fim. Sim, isso ainda não terminou. A vitória definitiva será minha e ainda terás de me ouvir gargalhar a tua humilhada derrota. Em meu coração só ouvia-se um grito de volta pra mim e me tira daqui; prova que nosso amor é maior e que tudo não passou de mentira. Me derrota! Me faz ver tudo que ainda não conheci, principalmente o Amor, que só ouso ansiar. Me faz confessora do porque eu te quis. Eu quis o nosso amor, pra sempre, bonito, leal e feliz. Que superasse tudo, vencesse tudo, que fosse firme, seguro, como tudo que eu quis que visse em mim.


"Obcecados com a busca pelo conhecimento acima de tudo, os humanos podem parecer frios e sem emoção" 

terça-feira, dezembro 21, 2010

Cânticos Entoados a Pan


Hoje vislumbro diante de mim tua silhueta nebulosa, tua diáfana presença esboçada numa carta. Tu meu Pan, que vem com a força de muitos homens, pois és tu quem enfrenta a verdade e a morte, quem não temes a mudança por mais brusca e violenta que ela seja. Que se faz dela para renascer como uma fênix. Você que se apresenta como a besta que vaga a noite; de lábios doces, que não desperdiça um só gesto, que tens na mente tudo calculado. Que de tão sensível capta da noite a beleza do orvalho e com os olhos cheios de água me apresenta com a alma mais despida, e mais cheia de verdade. Pan, tu que se deitas com Apolo, quem vem para ensinar a amar na terra. Tu que deitas no solo e me faz mais homem. Ele ama tanto quanto ao próprio Sol; ele ama o calor e a presença quente deste sol que afasta as trevas. Mas ele se vale das trevas, da noite, pois é à hora em que todos os amantes se deitam em seus leitos para se entregar. Entregar-se-ão ao amor da carne que fecunda o espírito.       
Ele toma a minha mão, olhas nos meus olhos despe a minha alma como quem tira uma peça das vestes; ele me vê; assim ele me vê como verdadeiramente sou; e eu o vejo como verdadeiramente és... Sem máscaras, sem roupa, só vendo em nossas as almas. Essas almas que vibram na mesma sintonia e com lágrimas de emoção tocadas pela névoa fria da noite, nossos corpos tremem à geada, as emoções nos sacodem que não nos deixa distingui-la do frio, mas sabemos que não são nossos corpos que tremem somente, são nossas almas que vibram de emoção ao saber que de ante de nós está à parte que nos despertara de baixo da macieira antiga. Nossos corpos estão aquecidos pelo vinho, para nos dar coragem e para matar o frio, a mente não está confusa e nem hesitante. Só não queremos romper com a magia que está impregnada no ar, o vinho a cada segundo que circula nos impulsiona a cada vez mais a darmos o primeiro passo; incitados a realizarmos o livre amor da carne, tendo em vista que o amor da alma já estara presente desde os primórdios da criação. Pois só o Amor gera Amor. Nos ali dançamos ao som épico da madrugada fria, cruzamo-nos tantas e tantas vezes que já suávamos. Quis morar eternamente nesse seu olhar, sua boca se mantinha cerrada muitas vezes, não exibia muitas palavras, como num gesto de gentileza para que eu pudesse brilhar. Mas esse mesmo olhar se revelava arguto e perspicaz, cheios de vontade e mistério, numa mente que não parava de analisar. No início houve medo, mas depois houve excitação e entrega.
Era esse o homem que me faria deitar no leito esperando que seu falo tocasse-me gentilmente a barriga, e que esse mesmo toque tênue tocasse as minhas pernas – que tremiam sob este contato físico -. Vejo nele o besta de sangue quente que morde a minha nuca, que me excita no olhar, que sopra seu hálito quente dentro do meu ouvido, que com gestos rápidos, porém firmes domina-me; vou até ele levado pelo seu aguilhão fincado na minha vontade - que corrói essa mesma vontade, que com o poder de seu olhar vasculha os porões da minha alma -.
Ele sabe que eu quero. Que eu o desejo; mas para isso eu terei que falar; e é ele quem com esse seu domínio de si e de mim quem vai trazer de mim a minha vontade manifesta. Fará com que eu me renda primeiro. E depois de termo-nos deitado, de eu ter ficado sobre seu corpo forte, grande e cheio de vigor, ele disserta sobre o quão livre e inocente é o nosso amor e de o quão a vida nos brindará com tantas outras felicidades. Ele diz que comigo gosta de aprender, e de tudo que lhe digo ele transforma em fantasia, em causa, em ideal e de uma simples palavra ele enche o ar de amor, e também, desse amor que acabamos de desfrutar. Não há nada a temer, amar e se entregar só tem sentido quando se é viver da entrega. É essa mesma entrega que o estimula, que fá-lo-ei me seduzir. Estar entregue é deixa-se arder pelos olhos de amantes como se queimar pela chama do eterno. 

"Eu não vim para competir. Vim para ganhar"

sábado, dezembro 18, 2010

Sonho de Ícaro

 
 
Eu só quero viver, sentir que existi e que existo, não só passar pela vida. Acredito que eu tenha vindo para sentir, e quando falo sentir, é sentir mais; o hiperlativo é o quê parece ser real. Mais, mais e mais, cada vez mais, é o jogo do poder e do desejo. Paixão. Impulsividade. Certo ou errado é o caos da dinâmica do jogo da vida. Vida, morte e renascimento – ciclo intermitente. Somos sempre um esboço emporcalhado da essência que nos habita. Uma casca e uma mentalidade limitada e amarrada a uma conduta pré-estabelecida.
Como num jogo da memória tentamos o tempo inteiro recuperar parte de nós, peças da nossa “humanidade’’ perdida. Dividido entre a carne que grita, que arde de paixão e o silêncio e a vastidão inescrutável do espírito. Querendo sempre ascender, chegar a verdade única, voltar a si mesmo, ao estado primordial, vacilando sobre a navalha da decadência que destroi o templo da existência. O fogo de Prometeu, tão mal assim que ainda arde na pele, e ainda condena a existência. Somos assolados pelos abutres que fustigam as nossas entranhas, dilacerando o perecível. Temperança? Difícil escolher!

"Os sonhos são fugazes. A realidade é mais ainda./A criação é um paradoxo, pois origina-se de seu oposto." Autor Desconhecido


Sou Eu o Filho da Carne

Sou eu o filho da carne, da mente desejosa, das vontades perniciosas. No meu andar, e sorriso faceiro gravam-se a expressão da própria provocação. Como um vento que sopra as árvores, eu sou a voz que tumultua as mentes; o olhar que faz o tremer de pernas a graça que faz o ranger dos dentes. Como a serpente que se enrosca por entre galhos, sou a mão que desliza por entre as calças, e revela a ti a mais doce e insana das realidades. Das bestas mais mundanas que perambulam por entre as ruas, destaco-me pela embriaguez de minha presença que desponta de uma suave alegria que inebria as mentes no fiar dos dias. Do tecer de minhas palavras muito se imagina, mas no íntimo dessa fera pouco se domina. Se conhecer, poder se faz, do desconhecer medo se cria; do resguardo de toda alma que se atavia das nébulas de fantasia, de um relicário de memórias recheados de emoções. Do pior dos cataclismas o pior é o sofrer do coração que não se cala no seu rugido que só pede emoção; que os homens a ele temem, mas que de nada deveriam. Que o desejo seja sincero para que de fato seja a fantasia. Que venha a besta noturna faminta de desejo. Que ela venha fecundar a terra, pois como tal és, saciaria seu intento! Venha comer-me no pé, na árvore da vida, dar-te-ei meu sumo, chamado amor.





"Ele desejou nobreza, mas não uma nação para honrá-la. Ele desejou conhecimento, mas não a vontade para aplicá-lo. Ele desejou poder, mas não a longevidade para aproveitá-lo. Ela desejou uma arma, mas não a habilidade para manuseá-la. Ele desejou crescimento, mas não de uma maneira que pudesse controlar. Cuidado com o que desejas!" Autor desconhecido

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Materialidade do Amor

 Acho que amar e não ser amado, essa forma de amor abnegado, ela é bonita, e assim eu estava. Na minha ilha, a enamorar-me pela imensidão do mar. Eu e meu medo de amar numa ilha. Eu estava muito distante do amor, numa ilha. Ele me ajudou a me jogar ao mar, foi meu impulso, meu tritão, deu-me de beber em sua taça. Deu-me de sua poção do amor. No entanto mesmo os que amam o mar precisam ancorar em alguma terra firme. Para mim a ancoragem era necessária, e ainda precisa ser em terra firme. O amor precisa de terra, ele precisa germinar e gerar frutos. Eu precisava comê-los. Não pude viver longe da terra. Assim como precisei aprender a cultivá-lo. Não era mais possível viver no meio do mar ao léu. Sem terra, não dava para sobreviver. Também não poderia viver numa ilha desértica, estéril, seca. Eu me condenaria à morte se assim fosse. Eu fui nadar buscar alimento fora de mim, busquei sair da ilha. E foi o tritão, esse ser encantador quem me ajudou a nadar, a buscar outras ilhas, a ver a beleza no orvalho que paira sob a vastidão oceânica em meio ao luar que ilumina o negrume amedrontador que é o mar noturno. Agora que aprendi a nadar que perdi o medo do oceano, que fui a outras ilhas, que colhi e aprendi a cultivar, entendi que eu posso esperar que se eu souber plantar, eu colherei, mas que não se deve apressar a natureza. Ela é sábia e tem seu próprio tempo. Eu que sou terrestre não pude ficar longe da minha tão amada e querida terra, pois eu só sabia coletar dela tudo que precisava. Agora ela me ensinou a cultivar e a esperar. Não há erros nessa perspectiva. Sei dar-lhes dos meus frutos; aos tritões; pois fora um tritão quem me ensinou a nadar. Eu me dediquei a mim, para aprender a me dar, a colher e a plantar. Eu busquei a paciência de quem cultiva, para que assim nem as intempéries mais rigorosas e nem o abismo marinho mais possa me aterrorizar e me impeçam de ir a algum lugar. Pois agora eu tenho a terra e os meus próprios dons. E eu sempre levarei comigo a terra que me sustentará. Antes eu tinha medo e agora sei cultivar, sei dar, assim como aprendi a hora de colher o fruto maduro do pé. Que eu ofereça a minha mesa para matar a fome de quem me pede comida assim como para que eu nunca mais sinta fome.



“Beije-me ele com os beijos da sua boca; me cubra de beijos! São mais suaves que o vinho tuas carícias, e mais aromáticos que teus perfumes; é teu nome, mais que perfume derramado; por isso as jovens de ti se enamoram. Leva-me contigo! Corramos!” - Cânticos de Salomão

terça-feira, dezembro 14, 2010

Revisões de um Louco

Hoje e sempre a mesma coisa!
Na mudança do dia-a-dia as horas são as mesmas, o mundo o mesmo, as pessoas as mesmas. Mas é exatamentente onde não vemos que acontecem as maiores mudanças. Num determinado momento elas já se reconfiguraram de tal forma que tudo que há é complexidade externa, aparente. Nós somos do gene à vida, do átomo à matéria e da energia às forças. Tudo que há de magistral se consolida na simplicidade. Dos gestos às palavras, de ideias a pensamentos. Tudo está cadenciado, orquestrado por um ritmo indetectável. Fazemos das
coincidências, acaso, a nós tão peculiares em sua importância, velados pela chamada sorte. Não há nada de pequeno em nós... Somos o que deixamos pra trás, pois aqui nada é tão nosso quanto parece ser. Quem somos nós? O que somos nós? Tantas coisas somos como podemos ser.
Dentro de nós reside à chave para encontrarmos a felicidade, chave essa que não abre portas, mas nos leva até ela. Ter a chave não significa ter a solução, mas ter a jornada a ser percorrida, chaves só abrem portas, pois para cada chave um segredo e uma porta. Abrir essa porta já faz parte de nós. De fato nunca abriremos todas as portas, quiçá todas de uma vez só. Pois não há um só homem que consiga percorrer todos os caminhos ao mesmo tempo, e mesmo quem os tenta acaba por descobrir que não serviu de nada se desdobrar tanto para fazer tudo, pois quem faz tudo acaba por não fazer nada. Tempo não é a palavra, Ritmo sim, essa o conduzirá a ver quem verdadeiramente tu és. Tempo segue tendência, ritmo é idiossincrático a cada um de nós.


"Como é terrível vaguear com o único anseio de escapar a si mesmo." - Taysir

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Contato inicial

O nome Taralho, vem da junção da palavra Tarot & Baralho; que nasceu de um engano enquanto eu discursava sobre baralho de tarot com a Babi (minha colaboradora e amiga do peito), ou seja foi nosso neologismo pra descrever todas as aventuras lidas em jogos de tarot. Pois bem, desde tempos imemoráveis estudo astrologia, sempre fui autodidata nesse sentido, como se houvesse uma voz latente em mim que me guiasse - um patrono, astrólogo, tarólogo e esotérico rs -. Com o tarot já foi algo mais elaborado, meu primeiro contato foi aos 14 anos, assim que a bruxaria virou minha filosofia de vida, e a minha curosidade sobre a mística ia aumentando, com isso iniciei minha jornada pelos métodos adivinhatórios. Comecei com um baralho super infantil, mas que auxiliava muito; tenho-o até hoje; é minha relíquia, por vezes o uso, pra matar a saudade. Touro é difícil de desapegar, imagina com o ascendente também, além do signo solar rs. Mas desde então que fui amadurecendo, fui necessitando adolescer junto com tarot e a astrologia, assim como na bruxaria e conforme eu crescia, eu me expandia para dentro desse universo. Fui seguindo os sinais, a intuição sempre me guiou, assim como a minha necessidade de cura, de alcançar um equilibrio com o natural (meio interno e externo), o que sempre me fez ser um experimentalista de mim mesmo; sendo a minha vida o meu maior laboratório. Depois comecei a tirar cartar para os meus amigos que me procuravam, curiosos, sempre fui muito ético e rigoroso comigo nesse sentido, pois não haveria sentido maio do auxiliar na formação, no elucidar de questionamentos, e nunca deformar, influenciar, intimidar, convencer, se aproveitar da boa fé pra se promover de algum modo. Fui vendo quão maior era essa realidade simbólica; cheia de sinais e sentidos que nos expressa o sirriso divino como uma assinatura na realidade circundante, que nos conduz até o entusiasmo, ou seja regozijar da presença divina que nos habita e nos cconduz a evolução. O tarot, hoje é meu grande terapeuta. Nele me reconheço, vejo partes de mim e dos caminhos que tomo a partir do meu livre arbítrio que moldulam o destino e aprendo com o mesmo. Se alguém me perguntar sobre que cartas mais se aproximam da minha personalidade, dos Arcanos menores seria: A Rainha de Espadas e dos Arcanos  Maiores o Sol. Um beijo a todos e espero que possamos compartilhar das nossas histórias pessoais, contribuindo para nossa jornada rumo a evolução da humanidade. Vou fazer assim, vou postar algumas criações de minha autoria e depois entro nos Arcanos, que serão conforme a carta tirada no dia. Quero criar um espaço para nos conhecermos, e onde criemos uma conexão íntima.