quarta-feira, dezembro 15, 2010

Materialidade do Amor

 Acho que amar e não ser amado, essa forma de amor abnegado, ela é bonita, e assim eu estava. Na minha ilha, a enamorar-me pela imensidão do mar. Eu e meu medo de amar numa ilha. Eu estava muito distante do amor, numa ilha. Ele me ajudou a me jogar ao mar, foi meu impulso, meu tritão, deu-me de beber em sua taça. Deu-me de sua poção do amor. No entanto mesmo os que amam o mar precisam ancorar em alguma terra firme. Para mim a ancoragem era necessária, e ainda precisa ser em terra firme. O amor precisa de terra, ele precisa germinar e gerar frutos. Eu precisava comê-los. Não pude viver longe da terra. Assim como precisei aprender a cultivá-lo. Não era mais possível viver no meio do mar ao léu. Sem terra, não dava para sobreviver. Também não poderia viver numa ilha desértica, estéril, seca. Eu me condenaria à morte se assim fosse. Eu fui nadar buscar alimento fora de mim, busquei sair da ilha. E foi o tritão, esse ser encantador quem me ajudou a nadar, a buscar outras ilhas, a ver a beleza no orvalho que paira sob a vastidão oceânica em meio ao luar que ilumina o negrume amedrontador que é o mar noturno. Agora que aprendi a nadar que perdi o medo do oceano, que fui a outras ilhas, que colhi e aprendi a cultivar, entendi que eu posso esperar que se eu souber plantar, eu colherei, mas que não se deve apressar a natureza. Ela é sábia e tem seu próprio tempo. Eu que sou terrestre não pude ficar longe da minha tão amada e querida terra, pois eu só sabia coletar dela tudo que precisava. Agora ela me ensinou a cultivar e a esperar. Não há erros nessa perspectiva. Sei dar-lhes dos meus frutos; aos tritões; pois fora um tritão quem me ensinou a nadar. Eu me dediquei a mim, para aprender a me dar, a colher e a plantar. Eu busquei a paciência de quem cultiva, para que assim nem as intempéries mais rigorosas e nem o abismo marinho mais possa me aterrorizar e me impeçam de ir a algum lugar. Pois agora eu tenho a terra e os meus próprios dons. E eu sempre levarei comigo a terra que me sustentará. Antes eu tinha medo e agora sei cultivar, sei dar, assim como aprendi a hora de colher o fruto maduro do pé. Que eu ofereça a minha mesa para matar a fome de quem me pede comida assim como para que eu nunca mais sinta fome.



“Beije-me ele com os beijos da sua boca; me cubra de beijos! São mais suaves que o vinho tuas carícias, e mais aromáticos que teus perfumes; é teu nome, mais que perfume derramado; por isso as jovens de ti se enamoram. Leva-me contigo! Corramos!” - Cânticos de Salomão

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