terça-feira, dezembro 21, 2010

Cânticos Entoados a Pan


Hoje vislumbro diante de mim tua silhueta nebulosa, tua diáfana presença esboçada numa carta. Tu meu Pan, que vem com a força de muitos homens, pois és tu quem enfrenta a verdade e a morte, quem não temes a mudança por mais brusca e violenta que ela seja. Que se faz dela para renascer como uma fênix. Você que se apresenta como a besta que vaga a noite; de lábios doces, que não desperdiça um só gesto, que tens na mente tudo calculado. Que de tão sensível capta da noite a beleza do orvalho e com os olhos cheios de água me apresenta com a alma mais despida, e mais cheia de verdade. Pan, tu que se deitas com Apolo, quem vem para ensinar a amar na terra. Tu que deitas no solo e me faz mais homem. Ele ama tanto quanto ao próprio Sol; ele ama o calor e a presença quente deste sol que afasta as trevas. Mas ele se vale das trevas, da noite, pois é à hora em que todos os amantes se deitam em seus leitos para se entregar. Entregar-se-ão ao amor da carne que fecunda o espírito.       
Ele toma a minha mão, olhas nos meus olhos despe a minha alma como quem tira uma peça das vestes; ele me vê; assim ele me vê como verdadeiramente sou; e eu o vejo como verdadeiramente és... Sem máscaras, sem roupa, só vendo em nossas as almas. Essas almas que vibram na mesma sintonia e com lágrimas de emoção tocadas pela névoa fria da noite, nossos corpos tremem à geada, as emoções nos sacodem que não nos deixa distingui-la do frio, mas sabemos que não são nossos corpos que tremem somente, são nossas almas que vibram de emoção ao saber que de ante de nós está à parte que nos despertara de baixo da macieira antiga. Nossos corpos estão aquecidos pelo vinho, para nos dar coragem e para matar o frio, a mente não está confusa e nem hesitante. Só não queremos romper com a magia que está impregnada no ar, o vinho a cada segundo que circula nos impulsiona a cada vez mais a darmos o primeiro passo; incitados a realizarmos o livre amor da carne, tendo em vista que o amor da alma já estara presente desde os primórdios da criação. Pois só o Amor gera Amor. Nos ali dançamos ao som épico da madrugada fria, cruzamo-nos tantas e tantas vezes que já suávamos. Quis morar eternamente nesse seu olhar, sua boca se mantinha cerrada muitas vezes, não exibia muitas palavras, como num gesto de gentileza para que eu pudesse brilhar. Mas esse mesmo olhar se revelava arguto e perspicaz, cheios de vontade e mistério, numa mente que não parava de analisar. No início houve medo, mas depois houve excitação e entrega.
Era esse o homem que me faria deitar no leito esperando que seu falo tocasse-me gentilmente a barriga, e que esse mesmo toque tênue tocasse as minhas pernas – que tremiam sob este contato físico -. Vejo nele o besta de sangue quente que morde a minha nuca, que me excita no olhar, que sopra seu hálito quente dentro do meu ouvido, que com gestos rápidos, porém firmes domina-me; vou até ele levado pelo seu aguilhão fincado na minha vontade - que corrói essa mesma vontade, que com o poder de seu olhar vasculha os porões da minha alma -.
Ele sabe que eu quero. Que eu o desejo; mas para isso eu terei que falar; e é ele quem com esse seu domínio de si e de mim quem vai trazer de mim a minha vontade manifesta. Fará com que eu me renda primeiro. E depois de termo-nos deitado, de eu ter ficado sobre seu corpo forte, grande e cheio de vigor, ele disserta sobre o quão livre e inocente é o nosso amor e de o quão a vida nos brindará com tantas outras felicidades. Ele diz que comigo gosta de aprender, e de tudo que lhe digo ele transforma em fantasia, em causa, em ideal e de uma simples palavra ele enche o ar de amor, e também, desse amor que acabamos de desfrutar. Não há nada a temer, amar e se entregar só tem sentido quando se é viver da entrega. É essa mesma entrega que o estimula, que fá-lo-ei me seduzir. Estar entregue é deixa-se arder pelos olhos de amantes como se queimar pela chama do eterno. 

"Eu não vim para competir. Vim para ganhar"

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